minha maior inimiga sou eu mesma
o vazio que sinto causado pelas minhas questões internalizadas
confesso que comecei esse ano com a palavra “mudança” gravada na minha mente tal qual chiclete embaixo da carteira escolar. ja lidando com o luto de me despedir da minha sala na qual eu estudo há mais de dez anos, recebo a noticia que muitos consideram o acerto da minha vida: passei na usp direto do terceiro. mas a única coisa que me preocupo é com a inexistência de bocas beijando a minha.
sei que pareço uma louca falando assim, mas ser bv com dezessete anos tem sido um fantasma que anda me perseguindo até quando acho que estou segura. falo isso porque nunca tive preocupações com meus estudos e isso sempre colocou um chão para eu pisar com segurança. claro que inseguranças com o que futuro me trará está sempre acompanhada com a jornada de estudos, mas sabia que não poderia controlar isso, então, para suavizar a incerteza, sempre coloquei meus sonhos profissionais acima de tudo, lendo livros, me informando, construindo uma mente pronta para alcançar o seu máximo.
mas, nessa história toda, onde fica o amor?
miranda hobbes se parece tanto comigo que senti raiva na primeira vez que percebi. depois que minhas amigas confirmaram, em negação analisei meu histórico igual as memórias de riley em divertidamente e consegui ver uma cena claramente em meus olhos. havia saído com o meu grupo para um barzinho à noite onde tocava pagode ao vivo. recheado de universitários, sorri com a ideia de que agora sou um deles e, enquanto isso, meus amigos conversavam e riam por causa do efeito que a nossa presença causa. quando fomos para o meio do grupo que tocava, eu dançava com os meus amigos quando eu sinto um toque no meu ombro. me viro e vejo um homem bonito, um pouco mais velho que eu, rindo e dançando comigo. vejo a intenção em seu sorriso e vejo que se eu falar com ele, pode dar em algo. mas simplesmente travo com a ideia absurda que tive e volto a dar atenção aos mesmos amigos. falo para mim mesma que talvez ele queria passar e fui rude, mas ouço o amigo daquele homem falando de longe: “ela estava interessada, ela olhou”. eu simplesmente perdi a chance, mas não penso em outra realidade na qual eu faria diferente.
agora você deve se perguntar: “o que isso tem a ver com miranda hobbes?”. eu te digo: tudo. assistindo sex and the city, percebi, na segunda temporada, a forma como que ela demorou para se abrir por completo para steve, para relaxar diante dele. e foi ai que eu percebi que as reclamações das pessoas que amo estavam certa: eu simplesmente não me abro para ninguém.
escrever isso é estranho para mim, pois sendo uma pessoa sociável que ama conhecer pessoas, lugares e viver, perceber que grande parte do “fracasso” de sua vida amorosa é sua culpa é perturbador (meu ego ferido talvez seja a resposta :). sempre terceirizei esse problema, colocando a culpa no meu corpo, no meu cabelo, na minha aparência, falando que quando eu melhorar tudo isso eu serei feliz e alguém me amará por completo.
mas como eu posso ter tanta certeza que serei rejeitada dessa forma se eu nunca tentei?
o medo de sofrer se tornou tão internalizado que se transformou em um escudo para meu ser, e essa proteção é recheada de preconceitos idealizados por mim mesma, que na maioria das vezes são exagerados e aumentados de forma absurda. com isso, o desejo de amar pessoas e viver histórias de amor se tornou uma idealização utópica, como se eu não fosse digna de ser amada.
talvez antes de amar alguém, eu deva cuidar e amar mais à mim
o desafio de lidar consigo mesmo é mais trabalhoso do que pensam. falam-se muito sobre problemas com amigas, amores, familiares, mas pouco se falam sobre problemas no qual seu inimigo conhece você melhor do que ninguém. meu dilema interno se tornou rotina desde que tive consciência de ser alguém na sociedade, e eu me pergunto quando ele irá passar, pois, (in)felizmente, eu tenho fome do amor, tenho curiosidade de me doar a alguém, de amar tanto a ponto de seu rosto invadir meus sonhos e meus pensamentos, mas meus ideais privam esse pensamento de mim mesma. então, para esse ano, grudo em minha mente o fato de que nada é tão ruim quanto eu penso, e não tem problema se eu me separar dos meus conceitos um pouco e viver sob uma nova face durante um curto período no qual meu olhar se cruzar com alguém, pois continuará sendo somente eu!!
“talvez antes de amar alguém, eu deva cuidar e amar mais à mim” sim meu deus!!!!!!!!! me identifiquei mais do que gostaria 😭
Que lindo, me identifiquei muito 🥲💗